Quarta, 10 de Setembro de 2025
Os anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) representam uma fase crucial e desafiadora na jornada educacional, marcando a transição da infância para a adolescência. Uma pesquisa abrangente, que ouviu mais de 2,3 milhões de estudantes em 21 mil escolas por todo o país, lança luz sobre as percepções e necessidades dessa faixa etária, visando subsidiar a criação de políticas públicas mais eficazes.
Um dos achados mais preocupantes é que menos de 40% dos alunos afirmam respeitar e valorizar seus professores. Embora mais da metade dos estudantes se sinta acolhida pela escola, a relação com os educadores parece ser um ponto crítico a ser trabalhado.
A pesquisa, fruto da colaboração entre o Ministério da Educação (MEC), o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e o Itaú Social, foi realizada durante a Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas, mobilizando 46% das instituições de ensino que oferecem os anos finais nas redes municipais, estaduais e distrital.
Katia Schweickardt, secretária da Secretaria de Educação Básica (SEB) do MEC, ressaltou a importância de adaptar as salas de aula à diversidade de perfis dos alunos. "Todo mundo aprende de um jeito diferente. O que a gente precisa é preparar os professores, o equipamento escolar, a comunidade, todo mundo para essas especificidades.", afirmou.
A secretária do MEC também enfatizou a importância do currículo escolar como uma perspectiva de vivência significativa na escola.
“Currículo, que não é só um conjunto, uma lista de desejos de conteúdo e práticas pedagógicas que a gente põe em um documento e deixa na gaveta. Currículo, de fato, é uma perspectiva de vivência, de existência de uma escola que é significativa”, disse.
Tereza Perez, da Roda Educativa, alertou para o risco de evasão escolar caso a heterogeneidade das salas de aula não seja devidamente considerada.
“A máquina da educação escolar busca homogeneizar as aprendizagens, por meio de um ensino único, negligenciando a heterogeneidade e a diversidade existente em todas as salas de aula. Esse fato, embora reconhecido, não provoca mudanças significativas na forma de ensino e, muitas vezes, culpabiliza alunos que não aprendem, usando a reprovação como o único recurso para que aprendam. Na maioria das vezes, também, não atingem o seu propósito de aprendizagem, gerando evasão e abandono”, destacou.
As percepções dos alunos foram divididas em dois grupos: 6º e 7º ano (mais novos) e 8º e 9º ano (mais velhos). Estudantes dos 8º e 9º anos têm uma visão menos positiva sobre a escola do que aqueles de 6º e 7º anos.
Patrícia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social, destacou a importância de políticas voltadas à educação na adolescência e o diálogo com estudantes e outros setores da sociedade.
“Nenhum outro país que a gente acompanha teve coragem de escutar os adolescentes como parte da política pública. Então, é com esse exemplo de construção de convergências, de escuta, que o MEC conseguiu criar convergências de diferentes territórios, de diferentes setores da sociedade civil brasileira. Nesse sentido, reafirmamos nosso propósito de não deixar nunca mais os anos finais [do ensino fundamental] serem uma etapa esquecida”, defendeu.
No quesito “acolhimento e pertencimento”, 66% dos mais jovens disseram que se sentem acolhidos pela escola, enquanto entre os mais velhos, apenas 54% se sentem amparados.
75% dos estudantes dos 6º e 7º anos afirmaram que confiam em pelo menos um adulto na escola, mas apenas 58% sentem-se verdadeiramente acolhidos por esses adultos. Entre os do 8º e 9º anos, o percentual de acolhimento cai para 45%.
Em escolas com maior proporção de estudantes em situação de vulnerabilidade, 69% percebem a escola como espaço de acolhimento, contra 56% em contextos de menor vulnerabilidade.
65% dos estudantes dos 6º e 7º anos concordam que a escola favorece amizades e interações sociais, enquanto para os do 8º e 9º anos, 55% concordam.
Oito em cada dez estudantes têm amigos com quem gostam de estar na escola. No entanto, o estudo alerta para os desafios na relação aluno-professor: apenas 39% dos mais novos e 26% dos mais velhos afirmam respeitar e valorizar os professores.
Dandara Vieira Melo, aluna da rede pública de ensino de Rio Branco, destacou a importância da escola como um lugar para aprender, conhecer novas culturas e fazer novas amizades.
Sobre os conteúdos e conhecimentos que consideram mais importante para o seu desenvolvimento, os estudantes mais novos citaram as disciplinas tradicionais (48%), seguido pela categoria corpo e socioemocional (31%) e habilidades para o futuro (21%).
Entre os alunos do 8º e 9º anos, as disciplinas tradicionais são apontas por 38% como muito importante para o desenvolvimento, seguida pela dimensão corpo e socioemocional (29%) e habilidades para o futuro (24%).